sábado, 29 de maio de 2010

Entrevista ao Subcomissário e Sargento (integrado no projecto Escola Segura) da PSP de VRSA

1. Qual o cenário de Criminalidade em VRSA?

Subcomissário: Aqui em VRSA, e concretamente também na zona do Sotavento [algarvio], na zona de Castro Marim, Tavira, Alcoutim… a criminalidade comparada com outras zonas do país é reduzida. (…) A criminalidade violenta é quase inexistente, a criminalidade de roubos, assaltos, os carjacking’s muito famosos é também muito reduzido.
Em concreto, [relativamente a] o Conselho de VRSA e em relação à Escola Secundária, a criminalidade também não é significativa. […] a única situação que nos preocupa, e a qual temos tentado combater é a questão do consumo de estupefacientes, consumo especialmente de haxixe, que hoje em dia está muito banalizado entre as camadas jovens, camadas muito jovens, crianças, pode dizer-se que são crianças de 10, 11, 12, anos .
Já intersectámos alguns alunos ali na Escola [Secundária] a vender estupefacientes, haxixe.


2. Quais os crimes com mais ocorrência?

Subcomissário: Grafittis há muitos, comparando com Olhão ou Faro, há muito poucos. Há aí uns menores que se dedicam a esses graffitis, mas eles não andam na Escola Secundária, são quase tudo rapazes que ainda andam na escola preparatória [Escola Eb, 2 e 3]. Praticam alguns graffitis mas também não tem especial relevo.
Mas, em termos de graffitis aqui, rapazes aqui de VRSA que façam isso, há aqui alguns casos mas também não têm assim especial relevo. […]
Outros crimes, o que acontece às vezes é quando se juntam em grupos, quando se encontram em grupos praticam alguns actos que podem ser comparados com crimes, que é agressões físicas uns aos outros, danificarem o imobiliário público, os candeeiros, envolverem-se em zaragatas de ofensas à integridade física, de baterem uns aos outros, e pouco mais que eu me esteja a recordar. Mas estes menores que se envolvem nestes ilícitos até nem andam na [Escola] Secundária, são menores com 12, 13, 14 anos e em alguns deles a escolaridade é quase nula, ou seja, já abandonaram o ano em cursos chamados PIEFs para serem recuperados, que não é fácil.


Existem ainda…

Sargento: Os furtos de telemóveis, a pequena questão a que chamam bullying, mas aqui ainda é uma coisa muito… não podemos chamar bullying…


(…)

Sargento: [Relativamente ao] Interior do estabelecimento de ensino, epá isso [ocorrências] há sempre, mas são situações que na sua maioria são resolvidas com o Conselho Executivo. Mas o Conselho Executivo chama-nos quando ele não tem capacidades para resolver certo tipo de problemas, quando são coisas entre eles, portanto, é com a Direcção de turma.



3. Qual a frequência dos ilícitos?

Subcomissário: [Relativamente] À frequência dos ilícitos não se pode estabelecer uma frequência. Não se pode estabelecer uma frequência, não há uma média diária nem mensal. É pouco frequente.

Sargento: Aqui em Vila Real relativamente aos jovens que temos e aos poucos estabelecimentos de ensino que temos, comparativamente com Faro e com outras grandes cidades. Por exemplo, podemos ter aqui um mês se calhar com 3, 4, 5, 6 ilícitos, quer seja furtos, alguma violência, como no mês a seguir podemos não ter nada. Aqui, eu costumo dizer: de Inverno, normalmente, muito poucas ocorrências, de Verão, sim, mais ocorrências. Nós, por exemplo em Outubro, Novembro, Dezembro, chegamos a ter aqui meses inteiros sem uma ocorrência, uma ocorrência que se possa dizer um furto de um telemóvel, uma agressão, …


4. Qual o tipo de ocorrências e onde ocorrem?

Subcomissário: Elas ocorrem, portanto, no próprio recinto da escola, ocorrem também ali nas proximidades de alguns cafés e ali em frente mesmo à porta principal da escola. Ocorrem junto da estação da CP, é uma zona para a qual eles vão muito. E depois há ali uns bairros complicados. Ocorrem nos jardins, naquele jardim ali em baixo junto ao Complexo Desportivo. Ocorrem ali junto àquele jardim junto ao rio, também ali junto à Câmara já tinham sido vistos menores a danificar o imobiliário, as luzes. E pronto não há um local de ocorrência de ilícitos de violência criminal propriamente identificados, violência juvenil identificada. É um pouco por todo o lado, digamos assim.


5. Entre que faixas etárias?

Subcomissário: Eu acho que a faixa etária mais preocupante é entre os 12… Até aos 15 anos.

Sargento: Temos agora aqui um [indivíduo] em mão em que o mais velho tem 14 anos. É assim, contrariamente ao que se possa pensar, a grande parte dos ilícitos ocorrem entre os 11, 12 até aos 14, 15 [anos].


Uma explicação plausível ….


Subcomissário: Isso também tem uma explicação, é que esses alunos, geralmente, quando já levam uns caminhos de tal maneira transviados já não chegam ao secundário. Andam nos PIEFs na Escola D. José I e dali não passam, e são esses que causam os problemas, porque quem anda na Escola Secundária é porque tem capacidade para andar ali… também os há, obviamente que há, mas a maioria deles são já pessoas que querem estudar.

Sargento: Quem chegou ao 10º ano foi porque se calhar sabia, porque se calhar estudou. Estes daqui por exemplo [os que estão detidos neste momento], este miúdos muito dificilmente vão chegar a um 10º ano.

Subcomissário: A faixa etária é entre os 12 – 16 anos, a partir dos 16 anos já são responsáveis criminalmente e, portanto, aí se calhar eles também percebem isso. [Aténs dos 16 anos] Aí não são criminalmente punidos, digamos assim.


6. Qual a possível razão dos incidentes?

Subcomissário: Há uma razão principal que é a desestruturação familiar, porque esses menores, os que mais cometem ilícitos, provêm de famílias desestruturadas, seja por questões económicas, porque os pais são pobres, seja porque os pais se divorciaram e só a mãe é que cuida dos filhos e não tem capacidade para tal, ou seja porque os pais são negligentes, completamente negligentes e não demonstram quaisquer aptidões para ser pais. (…) Há aí famílias supostamente funcionais e que não são porque os pais são negligentes, porque os pais negligenciam os filhos, deixam-nos ao abandono praticamente. Os pais querem viver a vida deles e deixam os filhos à margem, e depois os filhos tomam caminhos que se calhar por vezes não eram os mais adequados.

(…)

Os pais, os tutores, são maus tutores, e daí os filhos não têm onde se agarrar. Se não têm onde se agarrar vão-se agarrar a quê? Aos grupos de amigos, à internet porque têm os amigos na internet, aos grupos de amigos que estão na rua, e claro, os pais mantêm-se à margem da educação dos filhos, e depois dá mau resultado.

Sargento: Hoje em dia, torna-se mais preocupante a própria educação para pais, educar os pais, do que propriamente os miúdos. Se tu fores um bom aluno, se te portares bem, não foi porque aprendeste na escola, não é verdade? Foi porque aprendeste onde? Em casa, com o que viste.

Subcomissário: No outro dia na universidade um professor disse que estamos a viver as piores gerações de pais que a humanidade já viu.


Subcomissário: Bom, como eu estava a dizer, o consumo de estupefacientes, esse haxixe é problemático porque, para além dos danos que provoca na saúde dos jovens, contribui para que eles cometam às vezes idiotices, e desculpem a expressão, principalmente andarem na rua a partirem, às vezes, carros, dá-lhes para partirem os espelhos, é a violência gratuita… porque lhes apeteceu, nem é porque dali obtêm qualquer lucro ou qualquer benefício


7. Qual a influência dos videojogos?

Sargento: Esses jogos de vídeo e a internet, tudo isso que temos hoje em dia, foi, na sua grande maioria, aproveitado para fazer o mal, ou seja, em vez de termos aproveitado para o bem, para se explorar, hoje em dia não, é os namorados que metem fotografias das namoradas na internet, é o miúdo que na escola mandou uma faca a outra ou diz que a mata com uma pistola porque via nos jogos da internet, os próprios videojogos, hoje em dia, os mais bonitos, os mais chamativos são aqueles que têm sangue, que aparecem com sangue…


Subcomissário: Nós, [em relação a] esses jovens menores, temos alguma [actuação]. Para já, tem que se dar conhecimento sempre à CPCJ, que é a Comissão de Protecção de Crianças e Jovens em risco, e quando esses jovens cometem ilícitos, não se podem chamar ilícitos criminais, mas por serem menores é dado conhecimento ao Tribunal de Família de menores. Agora nós, Polícia de Segurança Pública, através essencialmente do programa Escola Segura fazemos o acompanhamento desses jovens.

Mas …

Não é fácil… não é fácil porque nós não temos grande capacidade de decisão sobre a vida deles, terá o Tribunal de Menores, a CPCJ e a própria escola também, agora nós não, temos é que colaborar essencialmente com essas comissões, com a escola e com o Tribunal de Família de menores… e nas vivências aqui do dia-a-dia, saber onde é que eles andam, o que é que eles fazem, é um pouco mais que podemos fazer. Nós não podemos obrigá-los a ir à escola, nós não podemos obrigá-los a ficar em casa, portanto, temos é o dever de acompanhar e de informar quem tem essa capacidade de decisão, nomeadamente o Tribunal de Família de menores e não, pura e simplesmente, desistir desses jovens.

(…) Mas na medida do possível tentamos o acompanhamento, e é isso essencialmente.


Queres entrar? É isto que queres, ou vais pensar duas vezes?

2 comentários:

  1. Os policias falar sabem todos lutam para nao haver bullyng nas escolas e levam os alunos para dentro que um gabinete fechado e batem-lhe la dentro com um auquitolqui mas que merda de proteçao e esta ainda falam dos bandidos drogados que deviam estar todos na cadeia se os policias sao muito piores que eles

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  2. isto é orrível, com esta idade a ser preso?! em algumas escolas a segurança é uma merda!!

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